Um movimento da Petrobras e de outras petroleiras de contratar mais plataformas próprias, em detrimento das afretadas, impulsionou os negócios no setor de seguros no Brasil nos últimos anos, disse à Reuters a coordenadora da subcomissão de Riscos de Petróleo da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg).
No acumulado do ano até setembro, as seguradoras com operações em território nacional arrecadaram cerca de 1,8 bilhão de reais com prêmio do seguro de operações da indústria de petróleo, alta de 30,4% se comparado com o mesmo período do ano passado, segundo um levantamento da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), em conjunto com a FenSeg. O impulso ocorre pois a Petrobras e outras companhias com atuação no Brasil, como a norueguesa Equinor, em geral priorizam a contratação de seguros no país, enquanto as afretadoras internacionais geralmente buscam o serviço no exterior, explicou Narely de Paula, da FenSeg. ”O Brasil tem sido o líder da demanda global por FPSOs (plataformas flutuantes), isso se reflete também no maior volume de prêmios de seguro”, destacou a executiva, em entrevista.
O montante inclui também operações de seguro durante a construção das plataformas, estruturas gigantescas que envolvem milhares de trabalhadores. Issoem momento em que a indústria busca expandir a cobertura em meio à expansãoda produção e operações no pré-sal. ”A demanda por seguros especializados, como seguros de controle de poços, responsabilidade civil, seguros de construção offshore e de perda de produção, bem como a necessidade de resseguro, criam uma ampla gama de oportunidades para as seguradoras”, disse Paula.
“Esse cenário favorece o desenvolvimento de novos produtos e a sofisticação das coberturas, o que impulsionará o mercado de seguros no país nos próximos anos.”
Em relação às indenizações, as seguradoras pagaram 211,9 milhões de reais via Seguro Riscos de Petróleo no ano até setembro, alta de 1.364,3% ante o mesmo período de 2023, conforme o levantamento.
No Brasil, embora não seja obrigatório, o Seguro Riscos de Petróleo é ainda, em grande parte, ressegurado, dado o alto valor envolvido e a significativa exposição ariscos ambientais e operacionais.
A opção por plataformas próprias ocorre em momento em que as grandes plataformas demandadas pelo Brasil se tornam cada vez mais complexas e mais caras, pontuou a executiva da FenSeg.
Além disso, as afretadoras têm encontrado dificuldades para financiar novos projetos, uma vez que os bancos têm buscado descarbonizar seus portfólios de empréstimos em todo mundo, em meio à busca pela transição energética, adicionou. “O valor do afretamento está ficando muito alto, então fica acima do esperado para o projeto”, disse Paula.
Paula explicou que geralmente os seguros referentes a plataformas são contratados em dois momentos: na contratação para a construção e quando as unidades entram em operação. Os prêmios relativos a construção, segundo ela, costumam ser mais representativos, uma vez que consideram o período do projeto que dura cerca de quatro anos, enquanto os prêmios operacionais são anuais ou até mensais. ”As taxas de construção também são um pouco mais elevadas do que as operacionais, pois há mais riscos associados na fase de construção do que na de operação”, adicionou Paula.
“De dois anos pra cá, a gente teve esse aumento nas contratações relativas à construção.“
A executiva destacou que o movimento de alta nas atividades de seguros para o petróleo ocorre ainda enquanto as seguradoras têm se colocado como importantes aliadas da indústria fóssil no caminho rumo à transição energética, de forma a reduzir riscos relacionados a operações e imagem.