Guerras e ameaças crescentes desafiam o mercado

Guerras e ameaças crescentes desafiam o mercado

Ucrânia, Rússia, Israel, Faixa de Gaza, Irã, China, Taiwan, Sudão. A lista de guerras e conflitos em curso, ou ainda latentes, é longa. À medida que tensões geopolíticas escalam mundo afora, o mercado de seguros se adapta a um ambiente mais imprevisível, com reflexos para cadeias produtivas e relações comerciais na economia global.

Em um cenário de tamanha volatilidade e incertezas, seguradoras estão aprimorando processos para enfrentar desafios que exigem mais aperfeiçoamento.

Para Antônio Trindade, presidente da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg), essa é a tônica do mercado ante o tamanho do desafio. “As seguradoras estão revisando estratégias de gestão de riscos e desenvolvendo soluções inovadoras para ajudar as empresas a mitigar os impactos de eventos geopolíticos”, afirma.

“É crucial para as seguradoras colaborarem estreitamente com seus clientes para compreender e responder adequadamente a esses novos desafios Mesmo que alguns desses conflitos sejam amplamente noticiados e mobilizem a opinião pública, seus efeitos que extrapolam fronteiras nem sempre são facilmente reconhecidos. A situação na Ucrânia e as tensões entre China e Taiwan têm implicações significativas para o mercado de seguros”, diz Trindade.

Segundo ele, os conflitos aumentam a incerteza e o risco geopolítico e dificultam a avaliação e precificação de riscos. Um dos impactos da guerra entre Ucrânia e Rússia, que se estende desde fevereiro de 2022, com mais de uma centena de milhares de mortos dos dois lados, foi a escassez de fertilizantes no mercado mundial, essenciais para a agricultura.

O Brasil consome 8% da produção mundial do insumo e importa 85% do que utiliza.

Apesar da regularização no fornecimento, Trindade alerta que uma eventual interrupção pode levar a uma escassez de alimentos e afetar o preço de produtos agrícolas. “Isso representa um aumento nos riscos para as seguradoras que cobrem o setor agrícola, além de potenciais maiores custos de sinistros.”

Já tensões entre China e Taiwan têm impactos na cadeia de suprimentos de semicondutores, presentes tanto em celulares e eletrodomésticos como geladeiras quanto em carros e aviões.

A falta do item teria impacto em diversos setores da economia. “Isso pode resultar em perdas financeiras para empresas em todo o mundo e aumentar a demanda por seguros contra interrupções na cadeia de suprimentos”, destaca o executivo.

Esses conflitos se somaram a um mercado que já havia sido afetado pela pandemia de covid-19 e se refletem em produtos como o seguro de automóvel.

A maior crise sanitária global em mais de cem anos inflacionou o setor automotivo em todo o mundo devido à falta de insumos para os fabricantes produzirem peças de reposição - incluindo os semicondutores -, o que causou o atraso de meses na entrega de carros novos. “Esse cenário se refletiu na valorização dos seminovos, fazendo subir as indenizações pagas pelas seguradoras. Esse custo entrou inevitavelmente na precificação do seguro auto no momento da renovação das apólices”, explica o presidente da comissão de automóvel da Fenseg, Marcelo Sebastião.

Na sequência, quando se esperava que o fim da escassez de peças se encerrasse em meados de 2023, a eclosão da guerra na Ucrânia derrubou essa previsão. Agora, uma eventual escalada do conflito na Faixa de Gaza pode levar a economia mundial a se retrair mais uma vez. “Um cenário como este deve ter efeitos negativos na indústria automobilística. Caso isso ocorra, é provável que o seguro de automóvel também seja afetado em todo o mundo, inclusive no Brasil”, diz Sebastião.

Outro setor diretamente afetado é o de transporte. As tensões no Oriente Médio levaram a apreensões de navios, como a embarcação de bandeira portuguesa MSC Aries, em abril, no estreito de Ormuz. “O que acontece no momento de guerra é que as coberturas de guerra não são ofertadas, uma vez que não há estatística que suporte o cálculo do seguro. Já as demais coberturas continuam sem qualquer aumento de preço”, afirma Marcos Siqueira, presidente da comissão de transporte da Fenseg.

“Outro ponto muito importante é que nas situações de guerras, os volumes de movimentação de cargas com origem/destino para cidade ou país em guerra diminuem, ou seja, refletindo em uma queda brutal nos negócios”, diz.    


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