Submissão Estrutural – consequência de uma cultura patriarcal

Submissão Estrutural – consequência de uma cultura patriarcal

Quando comecei a trabalhar, em meados dos anos 90, as mulheres ocupavam posições básicas dentro das estruturas das companhias. Entretanto, para minha sorte, entrei no departamento de seguro que era chefiado por uma mulher. A ela, devo muito do meu sucesso. Ela foi e continua sendo, minha grande mentora.

Além de todos os ensinamentos técnicos, ela também me ensinou muitíssimo sobre comportamento, relações humanas, administração de egos, estratégias de sobrevivência no mundo masculino, como me impor, enfim, muito de tudo que hoje falamos nos programas de mentoria e coaching.

Era para mim uma segunda mãe, mas uma mãe com visão corporativa. Minha mãe também me ensinou muito, tinha características muito fortes, sabia se impor, nos ensinou (tenho 2 irmãs) a sermos totalmente independentes não só financeiramente, mas emocionalmente também. Era considerada por outras mulheres, como além de seu tempo, entretanto ela não se envolvia quando o assunto era corporativo. Eu me lembro de comparar com minha mãe com as mães de minhas amigas. Que não tinham voz em casa, tinham medo dos maridos e acabavam diferenciando a criação quando se tratava de menino e menina.   

Aprendi ao longo desses anos que embora cada segmento de trabalho, seja: indústria, comércio, serviços, escolas e outros tenham dinâmicas diferentes, as situações com mulheres eram (ou ainda são) bem similares. E percebo que na época e ainda hoje, as mulheres têm mais dificuldades do que os homens de dizer NÃO, por diversos motivos.

Em todas as áreas: família ascendente ou família descendente, amizades e principalmente, trabalho.

“O pedido no restaurante veio errado, mas NÃO irei devolver o prato, pois o garçom ou outros clientes podem me achar fresca”

"Meu filho me pediu uma coisa inútil, mas irei ceder porque afinal fico tão pouco com ele”.

'Meu gerente pediu uma tarefa para um prazo que não conseguirei cumprir, mas é melhor não dizer nada, ou serei considerada incapaz”.

Enfim, são vários exemplos se pararmos para lembrar, quantas vezes deixamos de dizer o NÃO por culpa, vergonha, medo, insegurança, aceitação, submissão, dependência etc.

Óbvio que haverá situações em que realmente não poderemos dizer não e estas serão muito mais em função de comprometimento e responsabilidade. Entretanto, existem tantas outras em que respondemos SIM, de forma inconsciente, devido a uma cultura de submissão em que as mulheres ou estavam sujeitas, ou foram educadas para isso.

Minha mentora sempre diz que também aprendeu muito comigo (benefício do relacionamento intergeracional) e ela me dizia, na época, que eu era a única pessoa com quem ela podia praticar o NÃO e nossa relação permanecia inabalada. Ou seja, sem ofensa, sem demérito, sem preconceito, sem desrespeito, e principalmente, sem culpa. Ela também me dizia, que todo ser humano (homem ou mulher) pode falar o que quiser, entretanto o que fará toda a diferença é a forma como se diz. Aquilo que você não deseja para você, você não pode e não deve, fazer para o outro. Com isso, ela alcançou seu espaço dentro do mundo corporativo e incentivou várias outras mulheres. Também veio dela o aprendizado, de que devemos fazer tudo na vida com 3Ds: Dedicação, Determinação e Disciplina. 

Em uma situação de conflito ou disputa com o sexo oposto devemos priorizar as qualificações. E se você está sendo subestimada ou desvalorizada, lembre a quem está fazendo isso que aquela posição poderia ser ocupada pela mãe, esposa, filha ou sobrinha daquela pessoa. Portanto a mulher deve estabelecer limites sim, não de forma agressiva, mas de forma assertiva. E garantir que o NÃO seja dito, quando algo lhe agride, lhe fere, ou vai contra sua vontade, seus princípios, suas crenças.

Como mãe, aprendi a verdadeira necessidade do NÃO. O limite. Mas ao mesmo tempo, aprendi também a quantificar o NÃO. Isto é, devemos avaliar as situações, nossas possibilidades e na maior parte do tempo nossa zona de conforto. Do contrário, nos tornamos escravas do trabalho, dos filhos e dos amigos. Sabem, aquela que sempre topa tudo?

Não podemos querer dar conta de tudo. Precisamos de tempo para nós. Para nos cuidarmos, para termos prazer e, portanto, é importante priorizar o que é SIM e o que é NÃO.

E, finalmente, não devemos ter medo de dizer o que pensamos, porém podemos aprender como dizer. A maneira como algo é dito, seja bom ou ruim, é que causará impacto ou alívio a quem está ouvindo. Não se iniba, pelo contrário, se posicione. Com firmeza e segurança, de alguém que tem capacidade e conhecimento.

Acredite em você!


Rafaela Maria Barreda

Rafaela Maria Barreda

Diretora-Presidente do Lloyd´s Escritório de Representação no Brasil Rafaela juntou-se ao Lloyd’s, em março de 2010. Possui mais de 25 anos de experiência no mercado de seguros e resseguros, em desenvolvimento de negócios, assuntos regulatórios e de conformidade, ocupou funções relevantes em corretora de resseguros e em segurados como Guy Carpenter, VARIG Linhas Aéreas, Libra Rio Terminais e Cia. Libra de Navegação. Rafaela Barreda tem Pós Graduação em Administração pela Universidade Federal Fluminense, no Rio de Janeiro, MBA em Gerência de Riscos pela FUNENSEG/COPPE-UFRJ, no Rio de Janeiro e Graduação em Economia pela Universidade Gama Filho do Rio de Janeiro.


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