Seguros: Um mercado inseguro - O cenário pós pandêmico

Seguros: Um mercado inseguro - O cenário pós pandêmico

Antes mesmo de iniciar nossa análise do cenário atual do Mercado de Seguros, gostaria de adicionar um parêntese que entendo pertinente ao tema.

Em Junho de 2017 sai do mercado de Seguros para trilhar outros caminhos, passados pouco mais de 03 anos, voltei ao mercado em Novembro de 2020, em plena era pandêmica. Ao longo de 2021, chamou-me a atenção a relativa facilidade com que conseguíamos fazer colocação de riscos considerados bastante complexos e para os quais o mercado habitualmente tinha aceitação restrita, exigindo um esforço e energia extraordinários, mas que naquele momento não eram necessários.

Chegamos a 2022 com um cenário pandêmico senão de todo eliminado, pelo menos bastante mitigado pela vacinação em massa e pela própria mutação do vírus.     

De repente, aquele mercado que poderíamos considerar Soft se transformou em um mercado Super Hard, as dificuldades de colocação de riscos e negociações tem se refletido em nosso dia a dia de forma, que confesso, me parece quase inusitada.

Agravação de taxas, endurecimento de condições, passando por negativas de prorrogação de riscos, negociações que não produzem os resultados prometidos, informações truncadas, falta de comunicação clara por parte das Seguradoras sobre os processos, e até mesmo um certo comportamento birrento (desculpem, mas não tem outro nome), por parte de alguns players quando não conseguem atingir os objetivos, mesmo tendo sido eles os principais responsáveis por não enviar o necessário de forma correta, dentro dos prazos informados.

Todo esse cenário, me leva a pensar em duas causas bastante distintas, mas que se complementam nesse Novo Normal que não sabe ainda se é Novo ou mesmo se é Normal.     

De toda forma, temos um primeiro impacto que não pode e não deve ser ignorado em nenhuma circunstância, principalmente quando falamos de algo da proporção de uma pandemia, repentina e inesperada, que trouxe a tona em cada um de nós, pessoas físicas que compõe, constroem e dão face às pessoas jurídicas, inseguranças, medos, percepções, com as quais não estávamos acostumados a lidar. Há uma mudança de cunho emocional nos seres humanos que se manifesta em todas as suas relações, inclusive as profissionais. Nossa racionalidade encontra-se à mercê do incerto, do não sabido, como nunca antes. A pandemia foi para todos nós, em maior ou menor grau, um choque de realidade.

Conte-se ainda nessa categoria, as questões de alguns efeitos colaterais de ordem física deixadas por aqueles que sobreviveram a uma infecção por COVID, como por exemplo as dificuldades de memória. E pode não ser tão claro, mas a memória tem um papel importantíssimo em nossas linhas de raciocínio.

Por outro lado, naturalmente, há que se considerar o comportamento empresarial durante os tempos de isolamento e incerteza econômica, refletidas no aumento do desemprego, redução do consumo, fosse por perda de poder aquisitivo da população, fosse por incerteza do futuro. O mercado de Seguros, tornou-se, por assim dizer, mais leniente do que o normal, aceitou riscos que não aceitava, reduziu exigências, e até praticou taxas mais agressivas, em nome de manter a economia girando. O que, não me entendam mal, foi bastante positivo.     

A questão agora não é se retrocedemos ao patamar anterior, o que seria esperado até, mas acima de tudo é que se tem a sensação de que o mercado quer compensar rapidamente as perdas que teve ao longo desses dois anos.

É justo que assim queira fazer, mas Seguro, como todos sabemos é um mercado que precisa de maturação e por isso deveríamos ter um pouco mais de calma antes de simplesmente apertar o nó com tanta força.

A conclusão é que essa postura gera uma enorme insegurança do ponto de vista do Segurado e dos Corretores, a insegurança chegou no lugar onde a confiabilidade deveria ser o fundamento básico da atividade. Chega mesmo a ser irônico falar de um mercado de Seguros que não nos traz Segurança.    


Ana Vitória Lascala

Ana Vitória Lascala

Formada em Psicologia, com mais de 30 anos atuando no mercado de Grandes Riscos, tendo passagens por corretoras multinacionais como AON, MDS e Lockton e atuando como Risk Manager da Mitsubishi Motors do Brasil e TNT Express.


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