A equidade de gênero é temática atual e pertinente em todas as áreas de nossas vidas, além de uma discussão crucial no ambiente corporativo. A importância do tema se destaca em profissões tradicionalmente dominadas por homens, como a advocacia, considerando que o principal objetivo desta é defender alguém ou algo, o que em nossa cultura comumente é “papel do homem”.
Assim, nós mulheres temos enfrentado desafios únicos ao longo dos anos, buscando alcançar cargos de liderança ou papéis importantes no mercado corporativo. Conseguinte, o desafio é maior para as jovens advogadas. Entrar neste cenário pode significar confrontar não apenas questões jurídicas complexas, mas também barreiras invisíveis derivadas de estereótipos enraizados de gênero e idade. Nesse contexto, onde há pressão por desempenho e o ambiente é competitivo, a síndrome de impostora pode ser consequência comum. O distúrbio psicológico se resume em desacreditar de suas capacidades, sentindo-se como uma fraude prestes a ser desmascarada. Assim, as jovens advogadas, apesar de possuírem talento e competência, passam a questionar se merecem suas conquistas ou se estão apenas preenchendo cotas de gênero.
Um estudo recente sobre o Perfil Demográfico da Advocacia Brasileira, realizado pela OAB e cooperação da FGV, revelou que cerca de 55% (cinquenta e cinco por cento) dos advogados do país têm de 24 a 44 anos de idade. Ainda, o mesmo estudo destaca que dentre as mulheres, esse percentual sobe para 63% (sessenta e três por cento), entre outras palavras, há predominância da juventude na profissão.
O mesmo estudo destaca que atualmente a profissão é majoritariamente feminina, sendo que as mulheres representam mais de 50% (cinquenta por cento) dos advogados. Assim, notável o crescimento do interesse das jovens mulheres pela carreira jurídica, destacando a importância da busca pela equidade.
A Women in Law Mentoring – associação sem fins lucrativos que visa incentivar o protagonismo feminino no ambiente jurídico – divulgou que apenas 34% (trinta e quatro por cento) das mulheres estão no quadro de sócias de capital, apesar de serem 57% (cinquenta e sete por cento) na composição dos escritórios.
Dados como estes, perfeccionismo, ausência de feedbacks, comparação social, descrença em relação a pouca idade, maus líderes e discrepância salarial são fatores que colaboram para o surgimento da síndrome de impostora ou outros distúrbios psicológicos.
Em que pese o perfil atual da advocacia ser predominantemente jovem e feminino, claramente o caminho a se percorrer rumo à equidade ainda é longo, as jovens advogadas ainda enfrentam maiores dificuldades ao buscar ascender em suas carreiras, encontrando instabilidade em posições de liderança ou enfrentando discrepâncias salariais em relação aos colegas masculinos. Essas questões estruturais desafiam não apenas a equidade de gênero, mas também a justiça dentro da própria profissão.
As jovens advogadas são comumente descredibilizadas ao representarem seus escritórios frente aos clientes em reuniões ou na busca por prospectos. Do mesmo modo, somos desacreditadas pelos magistrados em audiências ou sustentações orais, e até mesmo descredibilizadas por outros advogados. Assim, torna-se rotina ter que comprovar suas qualificações, em razão de unir duas características erroneamente consideradas “ruins” para a carreira jurídica: mulher e jovem.
Contudo, a popularização de entidades em prol da equidade de gênero, como a Sou Segura, facilitam a luta. As empresas e escritórios de advocacia estão reconhecendo a importância da diversidade, e não mais como apenas um imperativo ético, mas também como uma estratégia de negócios. Há estudos recentes que demonstram que equipes diversas tendem a ser mais inovadoras e eficazes na resolução de problemas, refletindo diretamente na qualidade do serviço jurídico oferecido aos clientes.
Ações proativas adicionam força na luta pela equidade, buscando demonstrar no ambiente corporativo em que estamos inseridas que somos capazes, reafirmando a nós mesmas e confrontando os sintomas da síndrome de impostora. Exemplos de ações proativas são os programas de mentoria, palestras que abordem a temática, incentivo à capacitação das profissionais, políticas de promoção baseadas no mérito, transparência salarial e diversas outras medidas que podem nos ajudar a mitigar as disparidades de gênero.
Além disso, trazer iniciativas que promovem uma cultura organizacional inclusiva e de apoio também é fundamental para combater a síndrome de impostora, auxiliando no crescimento do sentimento de pertencimento e na crença de que são valorizadas e reconhecidas por suas habilidades. Ainda, as redes de apoio e conexões dentro da profissão, com perfis parecidos, também apoiam a luta. Então, conectar-se com mentoras que tenham trilhado caminhos semelhantes pode oferecer orientação e encorajamento, ajudando a fortalecer a confiança e a resiliência necessárias para prosperar em um mercado corporativo tão competitivo.
Assim, depreende-se que a equidade de gênero no mercado corporativo, inclusive no âmbito jurídico, não é apenas uma questão de justiça social, mas também uma questão de eficácia econômica e prosperidade organizacional, surgindo, cada vez mais, meios de alcançar tal equidade.
Ao passo que mais empresas e líderes reconhecem e valorizam a contribuição das mulheres para o sucesso empresarial, independente de suas idades, o caminho se torna mais promissor para essas profissionais.
Clamando nossos lugares pelo nosso próprio mérito, estamos não apenas moldando nossas carreiras, mas também transformando o futuro para as próximas gerações.
Sócia do escritório Ludkevitch Tourinho Gomes Sociedade de Advogados