O Seguro não morreu de velho, o seguro precisa dos “velhos”!

O Seguro não morreu de velho, o seguro precisa dos “velhos”!

Outro dia, olhando pela janela de meu home office, vi uma senhora, provavelmente na casa dos 65 ou 70 anos, trabalhando solitária em seu lindo escritório. Na mesa ao lado, uma série de placas de reconhecimento, tão comuns em nossa indústria. Fiquei tentando adivinhar qual seria sua profissão. A primeira coisa que me passou pela cabeça foi de que seria uma dessas advogadas bem feras e especializadas ou, quem sabe uma editora de livros? Quase peguei um binóculo, tamanha minha curiosidade. E por que não uma consultora ou corretora de seguros?

Recentemente precisei indicar para um cliente uma pessoa que tivesse bastante experiência em produtos de seguro. Logo lembrei de uma ex-colega e fui sondar se estaria disponível para este trabalho. Qual não foi minha surpresa ao descobrir que sua empresa de consultoria tinha tanta demanda, que nem adiantava contatá-la...

Pensei em quantas pessoas incríveis e com muita experiência já cruzaram minha carreira profissional e por onde andariam.

Quando iniciei minha carreira como subscritora de transportes, minha inspiração e meu mentor devia estar na casa dos seus 70 anos ou mais. Lembro de escutá-lo explicar com toda paciência como se fazia gerenciamento de carga, como medir riscos. E ele até se dispôs a entrar comigo em um navio graneleiro de cevada no Porto de Santos. Nunca esqueci do meu fascínio nesse dia e da sua calma e sabedoria.

Nosso mercado está sem dúvida passando por uma revolução, com as iniciativas de sandbox, Open Insurance, maior liberdade nos clausulados, como exemplo. Porém, os princípios básicos do seguro, o conhecimento técnico dos riscos, taxas, franquias e suas aplicações sempre estarão presentes.

Neste momento específico em que vivemos, em que o inimaginável aconteceu, como trabalhamos de casa e totalmente conectados, por que não tirar proveito dessas mudanças e dar oportunidade para estas pessoas que tanto contribuíram para o mercado com conhecimentos tão específicos como o de seguro e resseguro?

Será que os conceitos tão repetidos da história do seguro e resseguro, desde os fenícios até o início do Lloyd´s, tais como mutualismo, solidariedade e boa fé, fazem parte das práticas dos jovens executivos de hoje? Ou isso é coisa do passado?

Creio que a indústria de seguros e resseguros sempre servirá de suporte para que as demais atividades comerciais e industriais cresçam com estabilidade e as famílias tenham mais segurança financeira, beneficiando, assim, a sociedade como um todo. Nosso setor age como esteio para os outros, garantindo a segurança física e financeira das empresas e indivíduos, e creio ser este o maior motivo de orgulho dos profissionais deste mercado.

Ouço muitas vezes alguns executivos de empresas falando com orgulho que contrataram um grey hair e sempre penso se estou com os cabelos em dia e disfarçando o meu próprio grey hair. Mas, além de contratar para passar segurança de que sabem o que estão fazendo, estarão de fato abertos a ouvir suas opiniões e de, principalmente, integrar estas pessoas à operação, dando-lhes subsídios tecnológicos necessário?

Por mais que os encontros e trocas presenciais estejam por ora suspensos, meio de comunicação é o que não falta. Será que as empresas não poderiam investir nessa troca de aprendizado? Se por um lado talvez falte aos mais experientes o conhecimento das novas tecnologias, por outro sobra conhecimento de mercado, empatia, disponibilidade, e acima de tudo, a vontade de participar e de contribuir.

Se inclusão é um tema mandatório nas empresas, e as siglas do momento são ESG, que tal investirmos neste “S” tão importante, e, mais do que tudo, gratificante e saudável para ambos os lados?


Maria Victoria Barbará

Maria Victoria Barbará

Formada em Marketing pela antiga Faculdade da Cidade, e profissional do mercado segurador e ressegurador há 25 anos. Iniciei a carreira como técnica de seguros de transportes na Motor Union seguros, depois passando por Allianz, Unibanco AIG, Ace Seguradora, XL Resseguros do Brasil. Fiz parte do início de operação da Austral Resseguradora, e hoje ocupo o cargo de diretora de P&C.


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