O preconceito velado sobre a mulher negra no mundo corporativo

O preconceito velado sobre a mulher negra no mundo corporativo

Sou Caroline Rodrigues dos Santos, filha da dona Neusa e do seu João;

Sou uma profissional com mais de 20 anos de experiência e trago no currículo minha contribuição profissional em grandes empresas como Tokio Marine, Chartis, AIG, Marsh e atualmente Grupo Votorantim;

Gosto de maquiagem, cuidados com a pele e cabelo; 

Sou voluntária;

Sou formada em Tecnologia de Seguros pela FMU e especialista em seguros corporativos;

Sou negra;

Sou sorridente, tenho cabelos castanhos na altura dos ombros, uso óculos de armação laranja;

Sou filha, irmã, neta, sobrinha, amiga e profissional;

Sou Segura. 

Esta é a desconstrução da minha jornada familiar, acadêmica e profissional. Eu poderia usar vários outros termos para me apresentar, mas prefiro ser reconhecida como parte do esforço e superação necessários para quebrar as barreiras morais e culturais nas casas, nas ruas e no trabalho.

Sou a Carol Santos, uma das milhares de negras que juntas descontroem um pouquinho mais a cada dia o preconceito velado ou explícito em nossa sociedade.

No país da diversidade a cor da pele ainda se sobrepõe a outros fatores como o conhecimento, comprometimento, capacidade e a competência dentro das empresas. Quando o ser humano em questão, é uma mulher, a equidade passa ainda mais longe. 

A sensação muitas das vezes é a de que por ser mulher algo é tirado de você. Esse algo é a credibilidade. A preconcepção sobre aquilo que podemos, vem logo abaixo da foto no currículo, “pode até fazer isso bem, mas não serve para fechar negócios”.

Se o espaço de uma mulher já questionável, em que grau a dúvida aumenta em se tratando de uma mulher negra?

O Brasil é formado por um mix de culturas e raças, mas em uma sociedade tão plural, diferenças históricas com raízes profundas ainda não foram superadas.

A luta não é nova e temos bons exemplos de persistência e conquistas das mulheres negras, dentro e fora do mundo corporativo. 

Mas, a tomada (de algumas), do espaço por direito, ainda não é o suficiente para eliminar a dificuldade de posicionamento das mulheres negras competentes no mercado de trabalho.

A verdade é que o combate ao racismo caminha a passos lentos e os desafios costumam ser velados. É comum nos depararmos com falsas iniciativas de “boas práticas coorporativas” envolvendo a presença de negras no quadro de funcionários.

Com o boom das redes sociais, ser militante é ser pop, mas da tela para fora, o que vemos é o racismo estruturado culturalmente. Claro que campanhas antirracistas na internet são importantes, mas isoladas não basta. Desacompanhada de uma mudança estrutural interna não é sequer válida.

Precisamos de representatividade; De negras ocupando posições de destaque em áreas diversas. É aquela velha e necessária frase: o lugar da mulher negra é onde ela quiser.

Precisamos cada vez mais protagonizar cargos de liderança, gestão, comandar tomadas de decisões e assumir cargos dominados em sua grande maioria por homens.

Uma questão importante, é que nós negras enfrentamos maior dificuldade em concluir os estudos (seja pela escassez de oportunidades, por precisar contribuir na renda familiar desde muito cedo) e ainda driblar as estruturas de gênero e raça; E mesmo depois de conseguir, ainda carregamos no dia a dia do mercado a “obrigação”, de sermos melhores que colegas do mesmo nível hierárquico.

As oportunidades são reduzidas; É como se em um bang bang você tivesse apenas um tiro, enquanto todos os outros estão com suas armas carregadas. Há mais chances de erros para uns do que para outros.

Por exemplo, você sabia que uma negra recebe R$0,58 para cada real recebido por uma branca na mesma função? (Instituto Locomotiva).

Ou ainda que menos de 1% dos altos cargos gerenciais são ocupados por mulheres negras nas 500 maiores empresas do Brasil? (Instituto Ethos).

Mas, apesar de todo esse cenário adverso, a população negra movimenta, em renda própria, R$ 1,7 trilhão por ano. (Instituto Locomotiva). É uma voz que ecoa quase engolida pela massa, uma força de trabalho brilhante quase ofuscado e é por isso que a conta ainda não fecha.

Um exemplo simples e prático: Por vezes vemos o nome de uma mulher negra atrelado a força, mas você costuma ver títulos que descrevem uma negra como inteligente, por exemplo?

Acredito que a educação é um ponto de partida crucial. Somente quebrando o ciclo de não conseguir estudar, é que as dificuldades sociais das negas tendem a diminuir.

Quando falo de oportunidades, não significa que precisamos ter mais. Nós precisamos ter as mesmas, porém desde o início da jornada o que claramente não acontece.

Nós negras, podemos e devemos inspirar não só outras negras, mas brancas, homens e quem quer que seja. 

E por falar em mulheres de um modo geral, hoje elas já estão em 57,5% do setor de seguros. O dado é da Confederação Nacional das Seguradoras (CNSeg). É mais um avanço que tenho bastante orgulho de ostentar em nosso mercado.

Eu, Carol Santos, estou aqui por mim e por todas, para que mais mulheres sejam seguras de si dentro e fora do meio profissional.


Caroline Rodrigues dos Santos

Caroline Rodrigues dos Santos

Formada em Tecnologia de Seguros pela FMU, Carol Santos é especialista em seguros corporativos. Ela colunista voluntária da Sou Segura e já atuou como subscritora de riscos em grandes seguradoras como Tokio Marine, Chartis e AIG Seguros, em Responsabilidade Civil e CPI. Como corretora na Marsh, ocupou o cargo de Especialista em Responsabilidade Civil Geral, Riscos Ambientais, Testes Clínicos e Riscos de Petróleo por seis anos. Também foi responsável pela coordenação da equipe técnica e ministrou treinamentos para equipe interna, prospects e clientes. Atualmente Carol está no grupo Votorantim, fazendo a gestão de Seguros de grandes riscos da Auren Energia, sendo responsável pelas apólices de Risco Patrimonial, Responsabilidade Civil Geral, D&O, Risco de Engenharia, Drones, Frota entre outros


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