Novas perspectivas - Como novos companheiros de pais separados podem ter um impacto positivo na ampliação de referências das crianças

Novas perspectivas - Como novos companheiros de pais separados podem ter um impacto positivo na ampliação de referências das crianças

Dizem que não escolhemos os nossos pais. Será mesmo? Quando entendemos que os laços entre pais e filhos vão muito além do sangue, percebemos que podemos criar vínculos maternais e paternais que nos marcarão para sempre.  

Filha de pais separados desde os 6 anos, eu cresci rodeada por muitas figuras paternas e maternas. Entre eles estavam a minha Tia Eliane e o meu Tio Evandro, sempre próximos de mim, e pessoas iluminadas advindas dos relacionamentos que a minha mãe e o meu pai tiveram, com as quais pude ampliar o meu repertório de caminhos para a vida.

Eu não poderia descrever a minha infância sem falar do meu querido Tio Juan, companheiro da minha mãe em uma época importante da minha vida. Lembro com calor no coração da sua emoção quando o chamei pela primeira vez de "Pai2Que", que, segundo a minha linguagem infantil, significava "meu segundo pai querido".

Tio Juan foi fundamental na ampliação das minhas perspectivas. Com ele, eu jogava golfe todos os finais de semana - afinal das contas, ele me dizia, os negócios acontecem fora do escritório. Lembro que eu era encantada com o tamanho de sua agência de propaganda e vi, através do seu exemplo, o quão longe podemos chegar em negócios baseados na criatividade. Tio Juan também me ensinou a amar e ser amada independentemente dos laços sanguíneos. A minha infância não seria a mesma sem o seu cuidado e o seu amor.

Pessoas que não são filhos de pais separados têm mais dificuldade em entender esse amor plural. E foi justamente essa experiência com padrastos e "boasdrastas" queridas que me deu a clareza da responsabilidade que eu teria quando chegou a minha vez.  

O meu amor por Getúlio foi tão generoso que ganhei de presente três filhos do coração: Bernardo, Manuela e Maria.

A minha relação com Manu e Bê, os mais novos, começou de uma forma muito diferente dos testemunhos que escuto de colegas. Filhos de pais separados há 5 anos, os dois desejavam uma companheira para o pai. Foram eles, inclusive, que me pediram em namoro, depois de falarem para Getúlio que eu seria a namorada ideal.

A receptividade abriu as portas dos nossos corações. Eu fui, com a experiência da evolução da nossa relação, vendo o quanto a minha presença e, principalmente, a minha referência seriam importantes para eles. Ambos, por sua vez, tiveram cada vez mais confiança de que podiam contar comigo.

Manu, que já tinha uma tendência nata para se tornar uma mulher independente, comigo aprendeu os preceitos do empoderamento feminino. Para contar a nossa história, antes de escrever este testemunho, conversei sobre a nossa relação com ela, que me emocionou ao dizer que eu consegui apresentá-la a uma nova perspectiva de futuro; que através do meu exemplo ela passou a enxergar uma possibilidade real para a sua própria caminhada, onde ela poderia ser livre para escolher o que quisesse ser.

Estudar fora passou a não ser um bicho de sete cabeças, e sonhar em trabalhar com música se tornou uma possibilidade real. O nosso elo deu a ela a autoconfiança de que nós, mulheres, podemos escolher o nosso próprio destino; a mim, a minha primeira experiência com a maternidade. O desenrolar das fases, o amadurecimento mês a mês e os primeiros sinais da adolescência me ensinaram sobre os ciclos e como temos que ter zelo e paciência em cada um deles.

Já o Bê, hoje com 11 anos, passou a ter uma nova referência para a sua futura companheira. Ele mesmo diz que quer se casar com uma mulher inteligente, independente e trabalhadora. Eu e Getúlio rimos que até com óculos a nossa futura nora aparece na descrição.

Já minhas trocas com a Maria, hoje com 21 anos, são mais maduras e com uma boa dose de realidade. Eu busco instigá-la de que devemos estudar, batalhar e correr atrás da nossa melhor versão desde cedo. Eu converso com ela o que a minha mãe conversava comigo e também assuntos dos quais eu sentia falta. E foi com essa dose de sabedoria e generosidade que a nossa relação se solidificou com o tempo.

Minha trajetória está longe de ser a de uma mulher com "família de comercial de margarina". Desde a infância, foram muitos os personagens necessários para compor a minha história. E, por isso mesmo, ela é tão especial.  


Izabel Barbosa

Izabel Barbosa

Com 27 prêmios em sua carreira, Izabel Barbosa é especialista em branding. É designer pela PUC-Rio/ENSAD Paris, com MBA em Marketing pela FGV. Por acreditar que marcas podem mudar o rumo de uma vida ou de um negócio, fundou a Brand HUB e desenvolve, a partir de metodologias proprietárias, consultorias e projetos para empresas e profissionais ao redor do mundo que querem desenvolver estratégias para catalisar a construção de valor para as suas marcas. Já transformou histórias no Brasil, Qatar, Malta, EUA, Áustria e Turquia. Foi eleita em 2018 como a melhor profissional de Atendimento Sul-Sudeste no AMPRO Globes Awards. Em 2020 assumiu a Liderança Estadual da AMPRO - Associação de Marketing Promocional - no Estado do Rio de Janeiro. Fui coautora do livro "Mulheres no Seguro", publicado pela Editora Leader, segmento para o qual já desenvolvi inúmeros projetos estratégicos. Ainda como entusiasta da equidade de gênero, é mentora da Sou Segura.


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