Mães e suas Diversidades – um dia em comemoração ao sentimento

Mães e suas Diversidades – um dia em comemoração ao sentimento

O Dia das Mães é um dia de celebração e homenagem às mães. Um dia representativo para a retribuição do amor, carinho e gratidão que sentimos pela maternidade que vivenciamos.    

Alguns historiadores apontam as culturas greco-romanas como origem dessa comemoração, nos cultos de adoração às Deusas Reia (mãe dos deuses) na mitologia grega e Cibele (Magna Mater) na mitologia romana. No século XVII, surgiu na Inglaterra o “Mothering Day”, onde os operários ganhavam esse dia de folga para visitar suas mães.  

Entretanto foi no início do século XX nos EUA que se criou um dia para essa comemoração no formato que conhecemos hoje, e que se espalhou pelas demais culturas mundo afora.

Reverenciar a maternidade é uma questão de gratidão, de demonstração de amor. O que trago nesse artigo é o entendimento do que significa ser mãe.

Além do conceito tradicional de que mãe é aquela que “dá à luz”, já temos em nossa sociedade, há décadas, algumas configurações familiares que ampliam esse entendimento.

O que dizer de avós que cuidam de seus netos desde a primeira infância pela ausência da mãe, independente dos motivos? Ou de pessoas que criam os filhos abandonados por casais ou até mesmo filhos adotivos? Não exercem eles a maternidade efetiva e afetiva dessas crianças?

O ato de “dar à luz” é uma dádiva divina, de extrema beleza da natureza humana, entretanto não pode ser esse apenas o critério para designar a questão da maternidade, ou seja, o rótulo do “ser mãe”. Como dizem, mãe é quem cria, quem educa, quem ensina, quem convive.

Sob o ponto de vista legal, mãe é aquela que consta nos documentos de registro civil, mas sob o ponto de vista afetivo, mãe é aquela que se conecta pela relação construída na parte sentimental e de vivência. Uma não anula a outra, entretanto, da mesma forma, uma não pode excluir a outra.

Abrangendo um pouco mais a diversidade humana, hoje temos famílias com configurações diferentes dos padrões, no que diz respeito a orientação sexual e identidade de gênero e, igualmente, são famílias como quaisquer outras, de fato e de direito, direitos esses garantidos pela nossa legislação.

E está tudo bem com relação a isso. Hoje temos crianças com duas mães, com dois pais, ou com mães e/ou pai transgêneros e quaisquer desses fatores não mudam o fato de que são uma família e podem exercer a maternidade de forma plena e efetiva.

Uma criança nessa configuração familiar pode ter duas mães e amá-las da mesma forma.

Quando falamos de famílias de pessoas trans, o termo “mãe” ainda abre uma possibilidade de emprego mais amplo. Vou exemplificar com a minha vivência a respeito:

Embora eu seja uma mulher transgênero, com todos os documentos e direitos garantidos no gênero feminino, mantenho com minha filha uma relação onde ela me chama de “pai”, devido à minha transição ter ocorrido quando ela já tinha 7 anos. Essa é uma definição de semântica que eu tenho com ela. Diversa e controversa talvez, mas é sobre a nossa relação parental e não patriarcal.

Conheço diversas mulheres trans que se autodeclaram mães de seus filhos (biológicos ou não) e estão absolutamente certas em fazê-lo. Não existe o certo ou errado nisso, apenas um radical em comum... a relação de amor.

Da mesma forma ocorre com alguns homens trans que, por motivos pessoais e soberanos, podem manter o tratamento com seus filhos usando os termos “mãe x filho”... ou não. 

Essa diversidade, embora ainda cause surpresa, estranhamento ou até mesmo desconforto faz parte da nossa sociedade. Sempre fez, na verdade. Entretanto, agora o tema ganha visibilidade e espaço para discussão, para esclarecimento e entendimento dessas pautas.

Em 2018, o Supremo Tribunal Federal garantiu o entendimento de que o gênero é uma construção social de autodeterminação (julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade 4.275/ Distrito Federal). Nesse sentido, a definição do uso da palavra “pai” ou “mãe” cabe à relação familiar e o sentimento envolvido entre elas. 

Diversidade à parte, a maternidade é algo simbólico, algo sagrado, algo fundamental no desenvolvimento familiar e social de qualquer indivíduo. E exercer essa maternidade vai muito além da questão biológica, da questão genital, da questão do “dar à luz”. Ser mãe é sobre conexão, carinho, dedicação e respeito. Ou seja, em resumo: ser mãe é AMAR.

Olhar com empatia e acolher todas as formas de maternidade dentro desse conceito é fundamental cada vez mais em nossa sociedade diversa. 

Minha reverência a todas as mães biológicas, mães adotivas, mães de criação, mães trans e todas as “mães” diversas, com uma reflexão final:

Que o amor continue guiando essas conexões e que todas possam a seu modo fazer o melhor pelos seus filhos: serem MÃES.


Flávia Bianco

Flávia Bianco

48 anos, mulher trans, pai de uma filha · Publicitária, pós Graduada em Gestão Empresarial e Inteligência Competitiva; · Supervisora na United Health Group/ Amil Assistência Médica; · Articulista no blog “Transcendendo” (https://santaportal.com.br/blog/transcendendo/) · Palestrante (MEI) e ativista independente; · Integrante da Comissão Organizadora das 4 primeiras Paradas do Orgulho LGBT de Santos e colaboradora da Comissão Municipal de Diversidade de Santos (CMDS) desde 2017; · Diretora da Associação da Parada do Orgulho Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais de Santos (APOLGBT Santos); · Colaboradora em projetos acadêmicos, corporativos e formativos sobre inclusão & diversidade, mercado de trabalho, saúde integral para transgêneros e pautas trans/ LGBT;”


Mais artigos


Vídeos em destaque!

Nossos Patrocinadores