Gaslighting: isso só pode ser coisa da sua cabeça!

Gaslighting: isso só pode ser coisa da sua cabeça!

Você já ouviu essa frase dita para desmerecer o que você pensa, suas conclusões, suas ideias: “Isso só pode ser coisa da sua cabeça”? Ou já teve a certeza de que algo está acontecendo, mas alguém faz de tudo para te convencer de que é "loucura e invencionice sua”"?

A essa tática ou atitude se dá o nome de gaslighting. Em português, seria algo como "abuso emocional", um tipo de "violência psicológica".

A pessoa que pratica o gaslighting normalmente distorce, interpreta da maneira que lhe convém, inventa ou seleciona só o que lhe interessa, deixando interlocutores, ou melhor, suas vítimas desorientadas.    

O termo “gaslighting” surgiu do filme “Gas Light” (À meia luz, em português) de 1944. A trama acompanha um marido que quer, a qualquer custo, convencer a esposa e os conhecidos do casal de que ela é louca. Ele faz pequenas manipulações do ambiente da casa e, quando ela nota as mudanças, insiste que está errada.

Mas por que o termo gaslighting virou notícia e passou a ser discutido entre rodas de amigas e amigos?

O Fantástico da TV Globo exibiu no dia 31 de outubro de 2021 o programa da série “Isso tem Nome” apresentado pela repórter e jornalista Ana Claudia Raimundi sobre “Gaslighting”, se propondo a revelar a palavra certa para situações incômodas enfrentadas muitas vezes por mulheres que poderiam passar despercebidas e afetar a autoestima.

Com o Big Brother 2022, o termo ganhou ainda mais notoriedade nas falas de Arthur Aguiar.Alguns internautas apontaram que Arthur praticou 'gaslighting' durante o Jogo da Discórdia com Laís Caldas utilizando termos como "Você está exagerando" e "Você está ficando louca", típicos de quem veste a pele de manipulador e "abusador" psicológico.

Graças ao programa de grande repercussão nacional, a palavra “gaslighting” entrou para o rol das palavras discutidas nas conversas entre mulheres e nas empresas. Aliás, embora a palavra "gaslighting" não conste no Código Penal brasileiro, quem pratica esse tipo de abuso pode ser responsabilizado criminalmente, pois se trata de uma das formas de cometer violência psicológica, que é crime previsto em lei desde agosto de 2021.

No entanto, com a escalada de violência contra as mulheres e o índice crescente de feminicídio no Brasil, o programa Isso tem Nome foi além: trouxe outros temas como Mansplaining e Manterrrupting.    

Para quem não consegue reconhecer esses termos: você já foi interrompida no meio de uma frase? Ouviu alguém completar sua apresentação como se você não soubesse do assunto? Já viveu a experiência de uma pessoa explicar uma fala sua numa reunião ou apresentação?

Os termos servem para descrever o comportamento de um homem que pressupõe que entende mais sobre algo do que a mulher, mesmo que ela seja especialista no assunto em questão. Ele interrompe, explica novamente o que ela falou com outras palavras, debocha, corta o assunto.    

A consciência de eventos como esse é a chave para a transformação e mudança da nossa cultura muitas vezes machista. O livro “O Fenômeno Gaslighting” da escritora Stephanie Moulton Sarkis se debruça sobre as motivações e impactos do gaslighting. Mas, mais que isso, mostra como funciona essa estratégia de manipular pessoas para distorcer a verdade e manter outras pessoas sob controle.

Entender como ocorrem tanto o gaslighting como manterrupting e mansplaining é fundamental para frear abusos muitas vezes escondidos no dia a dia das mulheres e das executivas.    

Por isso, se ouvir “Você anda sensível demais”, fique atenta ao verdadeiro sentido dessa frase e não aceite mais deboche, nem abuso psicológico.

Afinal, mulher pode ser e chegar aonde quiser e tem força para isso.


Vera Lorenzo

Vera Lorenzo  

Formada em Comunicação Social pela UFRJ e em Letras pela Universiteit van Amsterdam, sou CEO da Fala Company, empresa de soluções em idiomas e desenvolvimento corporativo. Master Coach com 5 formações inclusive internacionais, Storyteller pelo McSill Studio (Inglaterra), Design Thinker pelo Designthinkers Group (Holanda). Autora do livro "50 coisas para fazer antes dos 50" e co-autora do livro "Mulheres que Transformam"


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