A luta feminista já alcançou tanto! Ajudadas pelas guerras mundiais, que praticamente as obrigou a saírem a trabalhar fora de casa, as mulheres conquistaram seu lugar no mercado de trabalho e vêm conquistando posições mais e mais altas.
Meu primeiro emprego formal foi num banco ligado à comunidade japonesa, chamado Banco América do Sul. Posteriormente ele foi vendido ao Banco Sudameris, este foi vendido ao Banco Real e finalmente tudo se consolidou no Banco Santander.
Conto isso para dizer que quando comecei, há bastante tempo, não existia nenhuma mulher gerente na agência em que trabalhava. Havia uma subgerente e uma coordenadora operacional, apenas.
Passaram-se os anos, ingressei no mercado de seguros, ao qual devo muito em desenvolvimento profissional e pessoal. Ao longo dos anos, vi as mulheres subirem mais e mais, eu mesma surfei na onda das estrangeiras a partir de 1999 e consegui progredir na carreira; este é um mercado em que surgem muitas oportunidades.
Mas, recentemente tenho notado algo interessante, inclusive em mim mesma: as mulheres que subiram adotaram uma postura muito “masculina” no trabalho.
Explico:
Um homem quando está frustrado (e Deus sabe quanta frustração enfrentamos no trabalho) normalmente fica agressivo. Bate os calcanhares e as portas. E isso é normalizado no ambiente de trabalho, porque muitos se identificam com as frustrações.
Uma mulher quando está frustrada, simplesmente chora. É de nossa natureza, choramos. Mas isso é a senha para que imediatamente ela seja vista como “júnior” ou “despreparada” ou pior: “descontrolada”. Se uma mulher quiser ser vista como sênior no trabalho, em hipótese alguma, nunca, jamais, ela pode ser vista chorando. E essa classificação vem de outras mulheres também.
Essa masculinização se reflete também nas cores de roupas que usamos: preto, branco, cinza, marrom, azul. Não apareça com um vestido pink para trabalhar. Ou na maquiagem leve, sapatos fechados, esmalte não berrante, recomendados no ambiente de trabalho. Não fale de suas dores emocionais, de seus amores frustrados, não demonstre que você é mulher. Adeque-se ao padrão masculino.
Não se comova demasiadamente pelas dores e lutas de seus subordinados e de outras pessoas da empresa, porque você será taxada de “muito maternal”, a abordagem aqui é profissional.
Não se apegue tanto às regras, não exija que as pessoas cumpram o que prometem, essa inflexibilidade ou exigência de segurança ligada ao feminino não é bem vista na empresa.
Melhor que você seja agressiva do que emocional. Melhor que você reaja às lutas do dia-a-dia como um homem do que como uma mulher. Melhor ainda: não reaja. Os homens em geral não têm tempo nem paciência, nem sabem como lidar com uma mulher chorando em frente a eles.
Creio que esta é a próxima fronteira do feminismo: já conquistamos muito, já temos 50% dos cargos de gerência no mercado ocupados por mulheres, embora ainda haja um caminho em relação às diretorias e conselhos de administração.
Temos agora de ensinar os homens que mulheres são diferentes, gostam mais de regras e por isso lidam pior com as chamadas ambiguidades, que exigem alinhamento entre discurso e prática, choram quando se frustram, têm interesses distintos, vestem-se como mulheres e amam como mulheres.
Colocamos os filhos acima de qualquer coisa, não podemos ficar para o Happy Hour porque temos de fazer o jantar para a família, porque muitos homens ainda não se envolvem nos temas da casa. Somos movidas pelas dores e dificuldades de outros.
E ainda assim, temos muito a contribuir, tanto em resultados quanto em padrões éticos dentro da empresa. Não é à toa que a maioria dos profissionais de Compliance são mulheres, mas isso é assunto para outro dia.
Vamos em frente, plantando sementes, ensinando nosso jeito e sendo nós mesmas.
29 anos de experiência no setor de seguros, formada em Direito pela USP e em Letras pela Faculdade Renascença, com pós-graduação em direito empresarial pela Universidade Mackenzie e MBA Executivo em Seguros pelo IBMEC em parceria com a Funenseg. Casada, uma filha, um sobrinho-filho, dois enteados, noras e genro. Defensora da Diversidade e dos Direitos das Mulheres e dos Animais.