A importância do empoderamento do paciente e educação em saúde, mediante ao envelhecimento da população.

A importância do empoderamento do paciente e educação em saúde, mediante ao envelhecimento da população.

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) divulgou em outubro de 2021 as projeções populacionais para o período de 2010 a 2100. Em 2010, a população brasileira era composta por 194,7 milhões de pessoas, havendo expectativa de que em 2100 esse número caia para apenas 156,4 milhões de pessoas no país. A proporção de idosos, que em 2010 era de 7,3%, pode chegar a 40,3% em 2100; enquanto o percentual de jovens (com menos de 15 anos) pode cair de 24,7% para 9%. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), até 2025 o Brasil será o sexto país em número de idosos, até 2050 teremos uma população 10 vezes maior acima de 60 anos e 26 vezes maior acima de 80 anos.

Ainda é grande a desinformação relacionada aos desafios do envelhecimento não saudável em nosso contexto social e urgente o debate sobre o assunto, criação de acesso à educação em saúde, empoderamento da população para tomada de decisões clínicas e mudança nos hábitos de vida.

O sistema de saúde suplementar baseado no mutualismo (diluição de riscos em um grupo de pessoas) faz com que a longevidade da população tenha impacto direto nos planos de saúde. Segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) 2021, o custo assistencial de uma pessoa acima de 60 anos custa 7,5 mais em exames e 6,9 em internação comparado ao adulto jovem. No Brasil, a projeção do IBGE em julho de 2018 é que para 2040 a proporção idosa deverá ultrapassar a de crianças e adolescentes, podemos então sugerir teremos problemas não somente de ordem econômica no sistema de saúde, como também com falta de profissionais para prestar o cuidado no decorrer dos anos.

Podemos observar um movimento, de órgãos públicos e privados, para termos no envelhecimento um recurso social e familiar, com foco em atenção primária e educação em saúde. Em junho de 2005, o Ministério da Saúde lançou o Programa “Brasil Saudável”, com o objetivo de estimular a população a adotar hábitos de vida diferentes, com ênfase em atividade física, alimentação saudável e controle do tabagismo, reduzindo a incidência de doenças não transmissíveis como cânceres, diabetes e doenças cardiovasculares. Houve investimento em núcleos de atividade física nas capitais do país, chamadas de “academia popular”, onde funcionariam também como apoio técnico às equipes do Programa Saúde da Família, que tem a essência da coordenação do cuidado ofertado a população e educação em saúde. Hoje, regularmente o ministério da saúde permanece com campanhas regulares de conscientização a população, acompanhamento de doenças crônicas, entre outras metodologias adotadas.

O movimento das instituições públicas e privadas para educar e envolver a população em seu autocuidado, como alimentação mais saudável nas escolas, programas de saúde básica em empresas contribuem, mas ainda pouco relevante para a velocidade e perfil do envelhecer no Brasil. A saúde deve ser vista em uma perspectiva ampla, intersetorial e interdisciplinar de promoção de qualidade de vida em todas as idades. Cabe aos profissionais e instituições de saúde liderarem os desafios do envelhecimento saudável, para que idosos sejam um recurso cada vez mais valioso para suas famílias, comunidades e seu país.

A década do envelhecimento saudável 2021 – 2030, declarada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em dezembro de 2020 é a principal ação para construir uma sociedade para todas as idades. A Organização Pan Americana da Saúde (OPAS), está liderando a agenda nas américas, norteadas por quatro áreas de ação nesta década.

1- Mudar a forma como pensamos e agimos com relação a idade e envelhecimento

2- Garantir que as comunidades promovam as capacidades das pessoas idosas

3- Entregar serviços de cuidados integrados e de atenção primária a saúde centrada na pessoa e adequados à pessoa idosa

4- Propiciar acesso a cuidados de longo prazo às pessoas idosas que necessitem

Vamos detalhar o item três e quatro do artigo:

O item três declara que integrar os setores de saúde e uma abordagem centrada na pessoa, qual seja participe ativamente do processo, além da implantação de serviços para orientação, manutenção e melhoria da capacidade funcional é imprescindível para o envelhecimento saudável.

O item quatro refere a preservação da dignidade da pessoa cuidada, desfrutando dos direitos humanos básicos. Além disso, é essencial apoiar os cuidadores, quase sempre informais (familiares e amigos), para que eles possam prestar os cuidados adequados e cuidar da sua própria saúde, fazendo cíclico o envelhecimento saudável.

Esses dois itens devem ser incorporados como regra básica pelo sistema de saúde e profissionais envolvidos, incluindo a população em sua rotina de educação de atenção básica em saúde e empoderamento do paciente, contribuindo assim para o “envelhecimento ativo”. Segundo a OMS o envelhecimento ativo aplica-se tanto a indivíduos quanto a grupos populacionais. Permite que as pessoas percebam o seu potencial para o bem-estar físico, social e mental ao longo do curso da vida, e que essas pessoas participem da sociedade de acordo com suas necessidades, desejos e capacidades; ao mesmo tempo, propicia proteção, segurança e cuidados adequados, quando necessário.

O envelhecimento populacional deve estar no topo das prioridades dos gestores de saúde no Brasil. Priorizar uma abordagem preventiva, investir em programas de promoção a saúde e empoderar a população para que tenha consciência e conhecimento sobre saúde é muito mais uma necessidade do que uma tendencia. A coordenação e transição do cuidado adequada é uma parte de suma importância desse processo, considerando a relação com o desfecho clínico a médio e longo prazo. 

A necessidade é imediata, a responsabilidade também da população, mas especialmente dos gestores e profissionais de saúde, onde há acesso para educar e coordenar a transição do cuidado, garantindo o desfecho clinico a médio e longo prazo, gerenciando o processo de saúde/doença durante a vida.



Paula Bertone Noberto

Paula Bertone Noberto

Gerente de Gestão de Saúde na THB, responsável coordenar o cuidado e desenvolver produtos e serviços para o mercado. Enfermeira de formação, especialista em Gestão dos Serviços de Saúde pela FGV e em Neurociências e Comportamento pela PUC.


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